3/15/2012


Por trás das palavras


Ou: como a etimologia me ajudou a superar o bullying no colégio!

“Sem querer pagar de professora de português nem nada não sei se você já se interessou por isso mas algumas palavras têm uma origem muito interessante. “Companheiro” por exemplo vem do latim cum Panis que significa: “aquele com quem dividimos o pão.” Olha que lindo! Ok, menos histeria e zero latim daqui para a frente. “Deslumbrado” ao pé da letra, quer dizer “ferido pela luz”. Tem mil exemplos legais, mas quero falar da origem de um apalavra específica que me marcou muito quando descobri.
            Eu tinha uns 15 anos quando fiquei exausta dos problemas no colégio. Nada a ver com notas: nunca fui a primeira da sala, mas sempre passei de ano sem grandes sofrimentos (parênteses para desabafar sobre desenho geométrico: com essa matéria eu sofria!). O que estava pegando é que eu estava sendo muito zoada pelos meus colegas em uma determinada semana. Certo eu sempre era zoada. Nem conhecia o termo bullying, mas era isso! A história tinha começado lá atrás: na 5ª série, ganhei um concurso que elegia a mais feia da sala. A partir daí a zoação só piorou. Eu era feinha esquisitinha zero popular, enfim vamos voltar para a origem das palavras senão vou chorar!
            Um dia cheguei em casa histérica falando que não queria voltar ao colégio nunca mais. MAS havia um fator agravante: meu pai dava aula no meu colégio e eu tinha bolsa. Daí eu me sentia até meio mal em inaugurar esse gasto familiar, né? Olha que consciente, eu. Bem, vamos ser honestas: meus pais disseram que minha escola era ótima e não tinha por que eu me mudar. Claro na cabeça deles, não tinha por que mesmo: eu chegava em casa histérica, mas não contava nada porque, afinal, eu tinha meu orgulho. Além disso, em casa e com os vizinhos não existia bullying: era todo um mundo a parte que eu não queria contaminar, entende? Não sei como é que tem gente que não acredita em realidades paralelas.
            Bom. Naquele mesmo dia, mais tarde meu pai – ele sim, é professor de português – veio me falar da origem de algumas palavras. Eu não estava nem um pouco no clima, mas começou a falar assim mesmo – sabe como são os professores! Sempre prontos para dar uma aula, os danadinhos. Mas ainda bem que ele insistiu. Porque uma das palavras era “coragem”, que ele explicou: vem do grego, significa “agir com o coração”. Nunca esqueci.
            Como você já deve ter percebido, para enfrentar os problemas do colégio e tantos outros que surgem pela vida, a gente precisa de mim ferramentas. De autoestima, de amigos, de inteligência de paciência do Google. E muitas vezes, nosso coração acaba ajudando bastante.
            Mas o que é agir com o coração? Não sei para os gregos mas pra mim é parar no meio da correria, dar um tempo por alguns instantes nos argumentos racionais, nas listas de prós e contras, essas coisas, olhar para dentro e se ouvir. No fundo, muitas vezes a gente sabe o que fazer e só precisa de um pouco de calma para descobrir, não acha? De um pouco de silêncio, mesmo.
            Naquela época do colégio meu coração dizia: calma, mantenha o controle, não desmorone, vai passar. Não foi fácil, mas acabei criando certo distanciamento da encheção. Começou sendo um distanciamento meio de fachada, mas depois virou de verdade. Fui me concentrando em outras coisas a galera foi desencanando e no último ano, eu já tinha paz. E, para mim, coragem e paz têm tudo a ver...”

- Liliane Prata
Capricho: edição nº1115 – 30.jan.2011
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